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Fusões e Aquisições em Crise: o impacto da política comercial e das incertezas globais
O mercado global de fusões e aquisições (M&A) é um dos termômetros mais sensíveis às oscilações macroeconômicas e geopolíticas. A queda abrupta no número de operações nos Estados Unidos, atingindo o menor patamar em duas décadas, evidencia como fatores externos, como tarifas comerciais, disputas políticas e crises sanitárias têm capacidade de reconfigurar drasticamente a dinâmica de investimentos corporativos.
A guerra tarifária iniciada pelo governo norte-americano, somada ao ambiente de incerteza que se seguiu à pandemia de COVID-19, reduziu a previsibilidade dos fluxos globais de capital. Nessas circunstâncias, a propensão ao risco diminui, e executivos tendem a adiar movimentos de consolidação. A retração observada, portanto, não representa apenas uma queda estatística, mas um sintoma de desconfiança estrutural quanto à estabilidade do comércio internacional e à sustentabilidade das cadeias produtivas.
Historicamente, choques exógenos, como a crise financeira de 2008, já haviam exposto a vulnerabilidade de mercados altamente integrados. No entanto, o atual contexto trouxe uma combinação inédita de fatores: incerteza regulatória, protecionismo comercial e volatilidade cambial, aliados a transformações estruturais em setores estratégicos, como tecnologia, energia e logística. O resultado foi um cenário em que as métricas clássicas de valuation se tornaram insuficientes diante da necessidade de incorporar variáveis de risco geopolítico.
A retração dos acordos de M&A deve ser entendida não como um colapso definitivo, mas como um reposicionamento das estratégias corporativas. Empresas que, tradicionalmente, buscavam crescimento inorgânico, passaram a priorizar liquidez, resiliência e eficiência operacional. Essa mudança de paradigma sugere que, no curto prazo, o apetite por grandes transações permanecerá contido, enquanto no médio e longo prazo, novos modelos de análise precisarão ser incorporados, integrando geopolítica, sustentabilidade e governança como variáveis centrais do processo decisório.